sábado, 16 de julho de 2011

Reflexões


Quando alguém me descrevia, ou falava algo sobre mim, os adjetivos quase sempre eram esses: caseira, calma, passiva, tolerante, compreensiva, que procura estar bem com todo mundo e fazer com que todo mundo esteja bem.
Por um tempo achei que essas características eram positivas e que me ajudavam a conviver em situações difíceis, mas há algum tempo, mais ou menos de uns 4 ou 5 anos pra cá, percebi que essas minhas "qualidades " também poderiam estar me prejudicando e até me fazendo sofrer muito.


Lembro muito claramente, no início da minha adolescência, que tive que usar muito dessa passividade e de uma certa política (mesmo sem saber que era isso que eu fazia) para poder conviver com minha mãe e meu pai na era pós-divórcio deles.
Eu viva praticamente num cabo de guerra entre os dois, tendo que saber o que falar e fazer para que nenhum dos dois saísse magoado ou chateado. Sentia que se não tivesse esse "jogo de cintura" a minha família já partida ao meio, se esfacelaria a qualquer momento, então me colocava nessa posição de meio-de-campo, uma posição muito desconfortável, mas que naquele momento era necessária na minha cabecinha pré-adolescente.
De um lado, minha mãe extremamente ferida e amarga por não ter mais um marido ao seu lado, se sentindo traída e com 3 filhas para criar sozinha. Do outro lado meu pai extremamente triste por ter que sair de um casamento que já não funcionava mais, deixar as 3 filhas e ir morar sozinho numa casa sem nenhuma estrutura e proibido de participar da vida das filhas.




Como eu, uma menina nos seus 12 anos poderia lidar com uma situação dessas sem magoar essas duas pessoas já tão machucadas ? 
Como eu ia fazer meu pai participar da minha vida sem que me minha mãe ficasse brava comigo por isso ?
Não tinha como deixar um feliz sem magoar o outro...cada dia era uma escolha...magoar meu pai ou deixar minha mãe mais triste ainda.
Pois é, eu com 12 anos na época comecei a exercitar muito esse meu lado passivo/conciliador para poder conviver com essa situação.
O meu medo/pânico/terror de situações conflitantes com altíssimas doses de tensão surgiu depois da separação dos meus pais.


Hoje percebo que essa tendência ao não-embate, tentativa zero de conflito, estar bem com todos, foi minha defesa, meu escudo, minha tentativa de viver num Mundo Cor-de-Rosa.


Sessões e sessões de terapias me fizeram refletir até que ponto isso foi bom ou não pra mim, e a conclusão que cheguei depois de muito tempo foi que esse meu comportamento foi bom e ruim ao mesmo tempo.
Lado Bom: eu me senti bem ao fazer isso, ao ser conciliadora, acredito ser um traço da minha personalidade, minha natureza, ser assim é ser eu mesma.
Lado Ruim: com o tempo, essa coisa de ser conciliadora demais, compreensiva demais, fez com que eu deixasse de brigar por coisas que eu acreditava, me fez "engolir sapos", aceitar certas situações que eu não queria aceitar, até não saber mais quem eu era de verdade.


Esse tipo de comportamento tanto na minha vida pessoal, quanto na vida profissional me fizeram sofrer muito, mas graças a Deus isso está ficando para trás na minha vida.
Hoje, sei que não há necessidade de ser conciliadora em tudo na minha vida e que conflitos acontecem e muitas vezes são até necessários.



Por mais que eu queira, será difícil eu juntar num mesmo espaço minha mãe, meu pai e minha madrasta (nossa, nunca usei essa expressão !), porque simplesmente demos importância demais à essa situação toda de separação e talvez agora seja tarde demais para resolver isso.
Conflitos no trabalho então, fui OBRIGADA a enfrentar vários. Pessoas e situações em saia justa, mas que se não o fizesse não conseguiria me olhar no espelho no dia seguinte. Enfrentei e enfrento situações que nunca imaginei, mas sei que não morri por isso.
Já não tenho mais impulsos de juntar todas as pessoas que trabalham comigo num almoço ou numa comemoração de Natal, porque simplesmente elas não querem isso ou não dão a mesma importância à essas coisas tanto quanto eu.


Hoje já não sofro por esse tipo de conflitos.


Talvez o fato mais importante, o que me deu forças para virar a mesa, foi decidir terminar com um relacionamento de 17 anos, no qual me anulei, me sufoquei, me feri. E conseguir enxergar que essas minhas características, que um dia serviram de proteção, estavam me fazendo um mal danado. 
Foi a decisão mais importante da minha vida até hoje, sabendo de todas as implicações que uma situação assim (eu já tinha visto esse filme antes) poderiam ser geradas, mas foi a partir daí que comecei a retomar as rédeas da minha vida.
Claro que ser conciliadora, passiva e compreensiva fazem parte do que eu sou, da minha personalidade, mas agora eu sei a diferença entre usar essas qualidades em doses certas e exagerar na dose, porque se eu errar a mão e for compreensiva demais, passiva demais e boazinha demais, a única prejudicada vai ser eu mesma.


Como é bom ter essa clareza e auto conhecimento para admitir que erramos, mas que podemos consertar e nos melhorar cada vez mais.




Pode ter sido depois dos 30, poderia ter sido depois dos 60. Termino esse desabafo com uma frase de Chico Xavier que talvez traduza tudo isso que falei hoje:
"Embora ninguém possa voltar atrás e fazer um novo começo, qualquer um pode começar agora e fazer um novo fim."




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