terça-feira, 19 de julho de 2011

O amor pede simplicidade

E o que é que ela vê nele? Nossos amigos se interrogam sobre nossas escolhas, e nós fazemos o mesmo em relação às escolhas deles. O que é, caramba, que aquele Fulano tem de especial? E qual será o encanto secreto da Beltrana?

Vou contar o que ela vê nele: ela vê tudo o que não conseguiu ver no próprio pai, ela vê uma serenidade rara e isso é mais importante do que o Porsche que ele não tem, ela vê que ele se emociona com pequenos gestos e se revolta com injustiças, ela vê uma pinta no ombro esquerdo que estranhamente ninguém repara, ela vê que ele faz tudo para que ela fique contente, ela vê que os olhos dele franzem na hora de ler um livro e mesmo assim o teimoso não procura um oftalmologista, ela vê que ele erra, mas quando acerta, acerta em cheio, que ele parece um lorde numa mesa de restaurante mas é desajeitado pra se vestir, ela vê que ele não dá a mínima para comportamentos padrões, ela vê que ele é um sonhador incorrigível, ela o vê chorando, ela o vê nu, ela o vê no que ele tem de invisível para todos os outros.

Agora vou contar o que ele vê nela: ele vê, sim, que o corpo dela não é nem de longe parecido com o da Daniella Cicarelli, mas vê que ela tem uma coxa roliça e uma boca que sorri mais para um lado do que para o outro, e vê que ela, do jeito que é, preenche todas as suas carências do passado, e vê que ela precisa dele e isso o faz sentir importante, e vê que ela até hoje não aprendeu a fazer um rabo-de-cavalo decente, mas faz um cafuné que deveria ser patenteado, e vê que ela boceja só de pensar na palavra bocejo e que faz parecer que é sempre primavera, de tanto que gosta de flores em casa, e ele vê que ela é tão insegura quanto ele e é humana como todos, vê que ela é livre e poderia estar com qualquer outra pessoa, mas é ao seu lado que está, e vê que ela se preocupa quando ele chega tarde e não se preocupa se ele não diz que a ama de 10 em 10 minutos, e por isso ele a ama mesmo que ninguém entenda.
Martha Medeiros


Adoro esse texto da Martha Medeiros, pela simplicidade dele...
O amor, na minha opinião, pede simplicidade.
Não gosto de complicações, aliás quem é que gosta ??!!
Não suporto a idéia de jogos de sedução, simplesmente não concordo.
Acredito que bons relacionamentos são baseados na realidade, nas verdades nuas e cruas de cada pessoa envolvida.

Aqui vai a minha versão do texto da Martha:

Vou contar o que ela vê nele: ela vê o cara que se preocupa se o dia dela foi bom e que quando menos ela espera, manda um torpedo propondo uma noite cheia das "más intenções", ela vê um bom humor quase insuportável desde a hora que acorda até o beijo de boa noite que faz com que ela pegue no sono com um sorriso nos lábios, ela vê que ele adora seu filho e se envolve na vida dele tanto quanto ela, ela vê o quanto ele a conhece que só pelo modo como ela responde ao msn ele já sabe que algo não está legal, ela vê que ele adora juntar a família pra ver um filme em casa, fazendo bagunça depois com as crianças e comendo um monte de porcarias, ela vê como ele procura alguma parte do corpo dela pra ficar tocando enquanto assiste à tv e adora senti-lo fazendo cócegas na palma da mão, ela vê o quanto ele é carinhoso e atencioso com as pessoas importantes pra ela, ela vê que ele adora tanto quanto ela ir à parques de diversão,  ela vê que ele fala um português corretíssimo, mas quando assiste jogo de futebol pela tv solta uns belos palavrões, ela vê que ele é um cara que trabalha sério, mas não perde a capacidade de sonhar com que desejam, ela vê que ele morre de vergonha daquela cicatriz que tem no abdome de quando teve que operar o apêndice, ela vê o cara que liga no final do expediente só pra falar que está com saudades e convidá-la pra pegar um cinema e bebericar alguma coisa, só porque sabe que ela adora esses finais de dia despretensiosos, ela vê o quanto orgulho ele tem dela e adora ficar horas e mais horas conversando sobre tudo e nada com ela, ela sabe o quanto ele é romântico e acha o máximo ter uma pessoa assim ao seu lado, ela vê o quanto ele faz questão de mostrá-la o quanto ela é importante na vida dele, e ela o ama por saber que não precisa dele e que ele não precisa dela, ela o ama simplesmente porque escolheu amá-lo.


Agora vou contar o que ele vê nela: ele vê que ela adora cantar onde ela estiver, no carro, em casa, no trabalho e que isso a faz ficar bem, apesar do tom de voz meio desafinado dela, ele vê que ela não tem obsessão pelo corpo, apesar de estar um pouquinho acima do peso e que se sente bem com ela mesma, mas que de vez em quando encana com aquela roupa que não está servindo mais, ele vê que ela gosta de se vestir bem mas também não é neurótica por sapatos e bolsa, vê que ela parece uma mãe permissiva, mas que sabe cobrar e conversar com o filho na hora que precisa, ele vê que ela tem mania de passar a mão no cabelo e se irrita quando alguém percebe isso,  vê também que ela às vezes se sente mal por achar que não está dando a devida atenção ao filho, vê que ela até hoje não sabe fazer café, nem sabe cozinhar feijão e nem aprendeu a fazer brigadeiro, nem na panela nem no microondas, mas que sabe fazer uma massa como ninguém, ele vê que ela nunca levou jeito com as finanças mas reconhece o esforço que faz pra não cair em tentação, ele vê que ela tem um jeito todo único de fazê-lo se sentir bem e de falar ao pé-do-ouvido o quanto ele é importante pra ela, ele sabe o quanto ela é romântica e não vê nisso um defeito e sim qualidade, vê que ela adora tempo frio só pra dormir abraçado, de conchinha, com os pés enroscados, ele vê que ela adora dançar e que sabe o quanto a faz feliz convidando-a para uma noitada na danceteria, e ele vê que ela trabalha e se esforça tanto quanto ele para que possam construir uma vida juntos, vê que ela quando pisa na bola não demora até o final do dia pra reconhecer e pedir desculpas, e vê que ela se preocupa em cultivar as amizades porque sabe o quanto isso é importante tanto para ela quanto para ele, e por isso ele a ama do jeitinho que ela é, sem tirar nem por.

M.J.C.
Pra fechar esse post, essa versão da música de Paul McCartney, na voz da linda Corinne Bailey Rae


2 comentários:

Letícia disse...

Você tinha tudo mesmo para gostar do texto do Ivan Martins, né (o do amor facinho)? Olha, Márcia, eu também tenho pavor de joguinhos, mas parece que a gente é meio exceção. Uma pena.

Bjos, querida

Marcia Cardoso disse...

Lê, eu adorei o texto do Ivan Martins !! É minha querida será que estamos remando contra a maré ?? Prefiro pensar que não e prefiro ainda ser exceção à regra, do que me meter em joguinhos e correr o risco de sair machucada.
Bjos